Vamos voltar um pouco no tempo? Faça um pequeno esforço em sua memória.

Lembre comigo, de quando você era criança ou adolescente. A vida já era um grande desafio, você já tinha SONHOS, MEDOS e muita INSEGURANÇA, assim como hoje. Os adultos… bem… Os adultos não se importavam com os seus problemas, eles estavam ocupados demais procurando um meio de prover a família de forma árdua e digna. Você ouviu frases como: Você não tem problemas, não tem contas para pagar. Enquanto isso, as inseguranças da vida tomavam conta de nós. Os caminhos errados, esses estavam acessíveis: Piscando em neon vermelho. Muitos de nós desviamos pelo caminho da rebeldia, por não saber o que fazer. Outros optaram por caminhos mais fáceis, e sabemos hoje, como adultos, que o mal é sempre mais acessível e muitas vezes sedutor.

O desafio do jovem é tentar integrar a nossa sociedade, ele quer e precisa fazer parte, desvinculado da figura dos pais. E isso me lembra do Orisa Kòri, e quem a cultua, sabe a sua importância e ase (força).  Dentro da nossa religião, qual é o suporte que damos a este momento tão confuso? De forma passamos segurança para essa criança e jovem? Para aqueles que contam com os orisa na adolescência e se agarram a eles, de maneira cega, apenas repetindo o padrão dos pais, o conhecimento mínimo é negado, e encontram, na maioria das vezes, deuses punitivos, justamente num momento em que precisamos de AUTOESTIMA, EXEMPLO E SEGURANÇA. Essa visão de Deuses punitivos, pode até ter funcionado com alguns de nós, mas com essa geração de agora? Só os afasta. Apenas observe. Fé e medo andam de mãos dadas no cristianismo, isso não pertence a nossa filosofia milenar. A base da nossa fé é o bom caráter (ìwá pele) e as atitudes construtivas. Eles podem nos deixar por nossa conta, de acordo com as nossas atitudes. Pra mim, quem nos pune é a nossa consciência.

Agora, ainda imerso em seu passado, me diga: O que aconteceria, quais as oportunidades você não teria deixado passar, se você soubesse que há uma essência divina dentro de você, um pedacinho de Eledunmare (O Criador/Deus), em estado de ignorância, com poderes suficientes para te fazer forte e te mostrar que o medo só existe, porque nós o alimentamos? Se você tivesse tido a oportunidade de conhecer algo, capaz de atrair para a sua vida a oportunidade de reconhecer a beleza e a oportunidade de cada dia?

Talvez você já tenha escutado o provérbio africano que diz:

“Quando não existem inimigos interiores, os inimigos exteriores não conseguem ferir você.”

Isso acontece quando aprendemos a cultuar Ori (cabeça), e simultaneamente entendemos a importância do fortalecimento do ìwá pele (Lê-se: iuá pêlê –  bom caráter).

Outra questão muito importante, a ser lembrada, e essa serve para todos nós, é que NENHUM orisa é capaz de abençoar um filho sem que Ori permita. Inclusive é por esse motivo que muitos ebo não funcionam. Porque a cabeça da pessoa, em um nível consciente ou inconsciente, não a julga merecedora ou simplesmente não quer aquela ajuda de fato.
Vou dar um exemplo rápido sobre o poder da Ori, para ajudar a esclarecer:

Dona Aparecida, costureira há mais de 25 anos, desenvolveu um problema nas mãos e não pode mais costurar. Sua família precisa e a cobra da renda do seu trabalho, mas ela não consegue, pois as dores são fortes. Aparecida vai até a sua Ìyálòrìsá, consulta o merindilogun, que aponta um ebo para Obaluwayie e outro para Ogum. Com sabedoria e conhecimento de fundamentos o ebo é feito. Só tem um problema: Dona Aparecida está cansada de costurar, está infeliz e se sente muito pressionada pela família e filhos, que já são grandes, ela na verdade, lá dentro da sua cabeça e coração, gostaria apenas de instruir novas costureiras e até mesmo aumentar sua produção e iniciar uma confecção. Pergunta: O ebo vai funcionar? NÃO. Mas… Por que? Falta de fundamento? Inexperiência do sacerdote? Castigo do Orisa?  Ogum não vai com a cara dela? Não, nada disso. Não vai funcionar porque o Ori da Dona Aparecida não vai permitir, pois na verdade ela não quer voltar a costurar, ela quer montar uma confecção. Este é apenas um exemplo.
Os Yoruba nos ensinam isso a milhares de anos, a ciência ocidental vem descobrindo a passos de formiga.
Por muitos anos, dentro de nossas casas, só cultuávamos Ori, no ritual do Bori (Dar de comer à cabeça), mas não sabíamos como esse ritual podia ser capaz de nos equilibrar e tornar o nosso destino mais próspero, assim como seres humanos melhores.

Então voltando ao foco do texto:

E se ensinarmos as nossas crianças e jovens desde cedo a importância do ìwá pele?

E se ensinarmos as nossas crianças e jovens desde cedo a importância e o poder de Ori?

E se ensinarmos as nossas crianças e jovens desde cedo que elas fazem parte de uma religião e filosofia, com tanta sabedoria, que é capaz de transformar a vida de cada uma delas em algo próspero? É possível.
E se ensinarmos as nossas crianças e jovens desde cedo a cultuar os Orisa e seus atributos, para que possam com a benção de Ori, ajudar a  cada um deles, a vencerem os obstáculos e ajoguns (inimigos espirituais)? E se ensinarmos ao nosso futuro, a sentir e ver Orisa de uma forma diferente das que nos ensinaram? Não estou falando de apostilas, assentamentos e nem de magia ou fundamentos.  Uma pergunta de uma criança que pode muito bem ser a sua é se o orisa existe, sempre fora feita a me sacerdote que com autoridade respondia:
Ao terminar a pergunta, ele com um pequeno sorriso de canto de boca, observando sempre a natureza respondeu:

Observe o vento um pouco mais forte, as folhas fizeram aquele barulho gostoso de quando o vento as faz chacoalhar e ele voltou a atenção para o menino, que devolveu com outra pergunta:

– Você está sentindo esse vento?
– Sim.    Respondeu o menino com um ar de desconfiança.
– Você consegue sentir a terra que está sob os seus pés ou o alimento que vem dela? Você bebe água?
– Sim.     Respondeu o menino mais uma vez, e agora mais desconfiado ainda.
– Então, você vê Orisa. Pois Orisa está em todos os lugares onde há vida. Orisa está na energia e na essência do vento, da água, da terra e do fogo. Ele está aqui agora disponível para você. Para senti-lo você não precisa que ninguém o ensine você precisa se permitir sentir e entender que cada elemento que constitui a vida e o mundo tem uma essência divina, uma energia chamada Orisa.
O rapazinho baixou os olhos por poucos segundos, prensou o lábios, como quem diz: Se eu não sinto é porque talvez nunca tenha me esforçado ou ainda não tivesse compreendido. Ele levantou o rosto na direção do Bàbá (pai) e balançou a cabeça com um sinal positivo.
Precisamos dar suporte aos nossos jovens e crianças AGORA. Antes que os percamos, não para outras religiões, e sim para o mundo ou para a vida, que sempre ensina da maneira mais dolorida. Precisamos encantá-los mostrando apenas como podemos ser abençoados, pelos nossos orisa, e como a nossa filosofia, faz de nós pessoas CAPAZES.

Cada Orisa, tem um atributo a oferecer, a filosofia Yorubá tem princípios à ensinar, Ori (cabeça) precisa ser nosso melhor amigo.
Por isso, precisamos nos nortear, (sem mexer na sua “panela”) orientar Omo Òrìsá ou  Bàbá/Ìyálòrisá, para começar a trazer as crianças e os jovens para mais perto de nós. Vou usar um termo que está na moda: Vamos “empoderar” essas crianças e adolescentes, vamos mostrar o quão linda é a nossa religião.

Somos todos seguidores de Orisa. O grande propósito não é dar louros à ninguém. O grande propósito é garantir que teremos um futuro promissor, com crianças e jovens preparados, que fortalecem o seu caráter diariamente com a ajuda da filosofia Yoruba, dos Orisa e de nossos ancestrais. Vamos construir o nosso futuro, vamos dar segurança e orgulho às nossas crianças por terem Orisa em suas vidas. Vamos plantar essa semente.

“Aquele que não cultiva seu campo, morre de fome.”
Provérbio africano.

Pense nisso.

Oluwo Ifagbola Abifarin Monteiro

 

Fonte da foto:  https://www.google.com.br/search?q=A+crian%C3%A7a+em+equilibrio+com+a+vida+religioso&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwja8rjMqvnaAhVKhJAKHTnwCL0Q_AUICygC&biw=1350&bih=635#imgrc=7OsNMEIG6TtL5M:

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